Até este ano, o
Brasil jamais havia frequentado o pódio olímpico em provas de canoagem
velocidade. Isaquias Queiroz, 22, findou o jejum na Rio-2016 e já somou três
medalhas – prata na C1-1000m, bronze na C1-200m e a prata no C2-1000m. Nesta
última, teve a parceria Erlon Souza, 25. O segundo canoísta brasileiro a obter
uma láurea em Jogos começou a praticar apenas porque queria comprar um caderno.
CANOAGEM
O episódio
aconteceu quando Erlon tinha dez anos. Filho do meio entre três irmãos, o
canoísta vivia em uma família humilde em Ubatã, município da Bahia que fica a
384 quilômetros de Salvador. Não passou necessidade, mas tampouco tinha acesso
a luxos.
O caderno que Erlon
usava não tinha mais espaço, e ele pediu aos pais que comprassem um novo. A
mãe, Dona Eliete, alegou que não tinha condições financeiras. O garoto, quando
ouviu isso, decidiu começar a trabalhar. Encontrou um emprego como tirador de
areia, função que consistia em remar até o meio de um rio, saltar da embarcação
e usar uma pá para retirar do solo o material que posteriormente seria usado em
construções.
Erlon não tinha
sequer um remo para percorrer esse trajeto. Improvisou o adereço com uma vara e
uma pá, e assim teve a primeira vivência como canoísta. “Ele sempre foi alguém
que correu muito atrás. Isso é muito marcante na personalidade dele”, contou
Dona Eliete.
Numa das viagens
até o meio do rio, Erlon viu garotos que treinavam canoagem velocidade. Era um
programa chamado Segundo Tempo, que também revelou Isaquias Queiroz e funcionou
por menos de um ano – foi fechado por problemas na prestação de contas.
“Ele tinha dez
anos, e eu disse que era pequeno demais. Ele falou que os meninos poderiam
segurá-lo”, contou Dona Eliete. Depois de um mês treinando, Erlon foi a um
campeonato em Itacaré-BA. “À tarde, chegou com uma camisa lá embaixo, muito
maior do que o corpo, e a medalha no pescoço. Eu o peguei, abracei e beijei.
Foi ali que começamos a apostar nisso”, completou.
A lógica de correr
atrás permeou toda a trajetória de Erlon no esporte. O canoísta não tinha
patrocinadores ou incentivos públicos no início da carreira, e por isso teve de
correr atrás de um tipo diferente de apoio. “Eu era diretor da Secretaria de
Meio Ambiente do Estado. Ele teria um campeonato em Curitiba na quarta-feira, e
no domingo me procurou porque não tinha como viajar. Consegui ajudá-lo, e na
quarta ele foi vice-campeão brasileiro”, recordou Wesley Faustino (PDT),
vice-prefeito de Ubatã.
O curioso é que a
figura propositiva e cara de pau contrasta com uma característica fundamental
de Erlon. Sobretudo por fazer dupla com Isaquias Queiroz, que é expansivo e
falastrão, o canoísta se destaca por ser quieto, comedido e introvertido.
“Ele é bem na dele.
Bem tímido e tranquilo, na verdade. Ele é evangélico, casado, gosta de ficar
com a família. A gente senta p
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